Cibertextualidade(s)
INTRODUÇÃOCibertextualidade(s) - Rui Torres
Os autores que participam nesta publicação fazem investigação numa área disciplinar que é atravessada, e contestada, por duas regiões do conhecimento. Transitando entre a tecnologia e a escrita, promovendo o estudo da cultura na hipermédia, tendo assimilado a relação entre arte e computador, eles testemunha(ra)m as fronteiras que sustentam as retóricas da especialização dos saberes e propõem agora pontes de diálogo, contribuindo desse modo para o debate recente das artes digitais. Além disso, fazendo da prática o método experimental da teoria que tentam assim edificar, apresentam aqui uma reflexão acerca das condições de existência dos textos cibernéticos que experimentaram, apontando o aparecimento de linguagens que, organizadas num conjunto de novas características e modalidades, se configuram naquilo que apelidamos de cibertextualidades.
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ENSAIOS
Aspectos quânticos do Cibertexto - Pedro Barbosa
A teoria quântica, originariamente concebida como teoria física para ser aplicada à estrutura íntima da matéria e às propriedades paradoxais das micropartículas (electrões, protões, átomos, moléculas), encerra pressupostos filosóficos que abrem uma nova maneira de pensar a realidade. Sabemos o risco que comporta a extrapolação, tantas vezes fantasiosa, desta teoria para outros níveis de organização do real. No entanto, Lothar Schäfer (químico quântico) é peremptório em afirmar que não é só no campo da microfísica que tais propriedades se manifestam: “As moléculas são a base da vida e as moléculas são sistemas quânticos. Todas as coisas, pequenas ou grandes, existem em estados quânticos.” E o matemático Roger Penrose corrobora: “A mecânica quântica está omnipresente mesmo na vida quotidiana, e encontra-se no cerne de muitas áreas de alta tecnologia, incluindo os computadores electrónicos.” Longe a pretensão de invadir um domínio que não é o da nossa competência – são os pressupostos epistemológicos desta teoria que aqui nos importam, não a sua operacionalidade científica. Por isso não levaremos a nossa ousadia muito para além do direito de citar, propondo uma homologia entre o modelo quântico e a teoria do texto, homologia cuja aplicabilidade ao texto gerado por computador se nos afigura particularmente rica de potencialidades. As textualidades inauguradas com o advento da informática, caso do texto virtual, do texto automático, do texto generativo ou do hipertexto, requerem uma correspondente forma outra de encarar o texto e a construção do sentido.
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Média digitais - novos terrenos para a expansão da textualidade - Pedro Reis
A intersecção da literatura com a informática, com especial incidência na poesia animada em computador, que será o objecto em análise neste breve ensaio, acentua a tendência do texto para transpor os limites convencionais, ao intensificar as propostas de interpenetração do verbal com o sonoro e o visual, já presentes em manifestações anteriores, por exemplo, no âmbito da poesia experimental1, mas também como lembra José Augusto Mourão (p. 409 e ss),2 ao entrar efectivamente em movimento e ao prestar-se a modificações, o que implica que as transformações de maior alcance produzidas pela literatura digital no conceito de texto são provocadas pelos textos mais interactivos.
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Tendências da linguagem científica contemporânea em expressividade digital - Sérgio Bairon
Desde o século XVIII, no Ocidente, desenvolvemos a metodologia da ciência como matéria obrigatória em praticamente todas as regionalidades científicas. Esta tradição elegeu a matriz verbal da escrita como a grande representação do pensamento analítico reflexivo. À essência institucional deste pensamento analítico (no meio acadêmico universitário a escrita moldou a fala), composto por um processo de fragmentação dos objetos de pesquisa, somaram-se inúmeras características de fundamentos filosófico-teóricos que, independente de suas variações e abordagens, determinaram a relação leitura/escrita como o único caminho possível à reflexão científica. Neste caminho de historicidade, houve inúmeros momentos que fizeram da divisão (institucional) entre arte e ciência, a expressividade da ruptura entre, de um lado, o predomínio da escrita metodológica na ciência e, de outro, a relevância das manifestações imagéticas e sonoras na arte. Apesar de inúmeros movimentos filosóficos terem defendido a idéia da paridade entre signos de características sonoras, imagéticas e verbais, que estaria presente em todo processo reflexivo, a verdade sempre esteve associada à colusão institucional de que somente a escrita, fruto da leitura de textos consagradamente científicos, poderia representar a condição máxima do juízo analítico. As divisões institucionais entre arte e ciência nos dias de hoje ainda guardam, sobretudo institucionalmente, esta tradição. É deste lugar que pretendo partir à proposição da seguinte problematização: terão as produções hipermidiáticas da década de 90 do século passado e dos primeiros anos deste século, desenvolvidas sobretudo nas universidades brasileiras e alemãs, a possibilidade de demonstrar novos desafios à expressividade do pensamento científico? Este artigo, portanto, pretende ser somente a colocação do problema.
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TESES
O conceito de novas tecnologias e a hipermídia como uma nova forma de pensamento - Luis Carlos Petry
O conceito de novas tecnologias está associado à utilização do computador pessoal e sua progressiva transformação em ferramenta de utilização nos processos de expressão e comunicação da subjetividade. Pela primeira vez na história, o homem dispõe dos suportes para registrar, armazenar e recuperar, de uma só vez, um mix de informação que combina, numa espécie de sincretismo digital, texto, imagem estática e dinâmica e sons dissolvidos em um mesmo código comum: o código digital.
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